sábado, 20 de janeiro de 2018

20 de janeiro - Oxossi

Quando a água do rio transborda, foi porquê a chuva veio forte. Caboclo saiu da mata com medo da chuva, nunca mais voltou. Caboclo se perdeu na trilha tentando se encontrar. Devia era ter deixado gravetos pra voltar.

Foi fenda no tempo, sem saber se é rio abaixo ou acima. Isso já não importa. Caboclo agora voltou pra encontrar o rio e encontrou um menino. Menino ficou parado, olhando o Caboclo e Caboclo olhava as próprias mãos.

Um refletia o outro. Caboclo tinha certeza: havia encontrado seu menino de novo. Ambos correram pela mata adentro à procura do rio. Ao achar, mergulharam juntos, e quando saíram do rio eram de novo um só. Caboclo foi em busca do rio e encontrou à si mesmo.

Foi em busca de cura. Esqueceu que às vezes o veneno é o próprio antídoto. Mergulhou o Caboclo, como sempre fez. Mas agora, mergulhou em si. Não tem mais fogo ou fumaça. Não tem presa ou caça. Caboclo sabe o que quer. Sabe o que tem que fazer.

Havia ferida de flecha na perna do Caboclo, mas as feridas da alma eram as que doíam de verdade. Vai Caboclo. Volta pra mata. Cura. E volta firme, forte, caçador que com uma flecha só atira pra acertar.

Quando a chuva cair, se lava, se molha. Lembra sempre do menino que vivia à dançar e implorava pra rodar na chuva. Lava as feridas, cicatriza. Caboclo que cura sua dor não machuca ninguém. Okê Caboclo.

Escrito por Rascunhos do Fabio de Souza.


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